quinta-feira, 24 de julho de 2014

A sombra quieta




Era uma vez uma sombra
que não parava de estar quieta.
Quanto mais quieta estava
mais o pobre corpo
se mexia
e saltava, esbracejava, corria.
Tomado pelo medo,
o corpo acabou por fugir
daquele sinistro lugar.
Nunca mais ninguém o viu.
E a sombra?
Ainda lá está.
Ali, naquele lugar.


Poema de João Pedro Mésseder
in Pequeno livro das coisas 

ilustração de Gémeo Luís

segunda-feira, 21 de julho de 2014

A erva daninha


 

Sou uma erva daninha.
Nem princesa, nem rainha.

Não tenho eira nem beira.
Nem ninguém que me queira.

Comigo ninguém se importa.
Todos me querem ver morta.

Sei que sou amaldiçoada.
porque não sirvo pra nada.

Mas a culpa não é minha,
de ser uma erva daninha.

Inventaram o herbicida,
pra me complicar a vida.

Mas isto não fica assim.
Vamos ver quem ri por fim.


Nem princesa nem rainha.
Sou uma erva daninha.





Poema de Jorge Sousa Braga
in Herbário

Ilustração de Iela Mari